há coisas sobre as quais não gosto de falar, porque a proximidade pode moldá-las e corro o risco de haver na sua descrição um excesso de emoção.
mas há outras que sinto que têm que ser (d)escritas no momento, para me lembrar delas tal como as vivi.
infelizmente, há alturas para nós particularmente complicadas. nem sempre os que nos rodeiam se apercebem disso. na cabeça, formulamos um conjunto de causas possíveis. e não é fácil encontrar uma solução.
descubro, aos poucos, que não existe um milagre. sei que não me posso sustentar sozinha, mas que há pequenos detalhes que, subtilmente, me ajudam. é preciso percebê-los. nos locais, nas pessoas, nos gestos. não é o óbvio o que nos salva, são antes as pequenas surpresas que, sem querer, nos passam despercebidas.
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a C. dizia-me há dias que não percebia porque é que me afastei de tantos colegas e amigos da escola quando entrei na faculdade. sei que ela não o entendeu como um afastamento premeditado ou uma tentativa de demonstrar que eles deixavam de ser importantes.
expliquei-lhe que o processo de crescimento nos faz exigências várias. que precisei de um tempo para estar longe do que me sufocava aos poucos. que queria um espaço para respirar. não sei se é correcta, mas a minha forma de o fazer é estar longe. temia que nem todos o percebessem assim. temia, pelo menos, por quem era importante.
a esta distância, passados estes anos, começo a rever algumas pessoas que deixei temporariamente pelo caminho. não é certo que todas regressem e façam de novo parte da minha vida. mas é tão bom que tropecem em mim. é tão terno redescobri-las. perceber que crescemos, que temos ideais e valores vincados, sonhos por cumprir, objectivos definidos. mas também recordações que revivemos (se forem boas) ou que ficam apenas num olhar de entendimento (guardadas num baú, se não as estimamos).
e ver os mesmos sorrisos com um outro olhar. eles não sabem, mas todos esses
pequenos nadas me fizeram melhor. com saudades do que passou. com a esperança de que haverá mais dias assim, tão doces.
[apesar do escaldão, o dia valeu a pena. por tudo, mas principalmente por vocês.]
