segunda-feira, setembro 12, 2005

magia

rua acima, a olhar as montras e a ouvir cantar. o fado da minha terra, pensei. nunca gostei de fado. talvez por ser a canção da saudade e me entristecer.
perdi-me em pensamentos dispersos. não notei que esvoaçavas ao meu lado. sorriste com o ar de menino que sempre te conheci e disseste-me olá. sabes que não resisto ao olhar que fazes quando te ris.
vinhas com vontade de falar, de contar histórias. descreveste-as uma a uma com um detalhe que me fez vivê-las ali mesmo.

sentámo-nos na esplanada, sentimos o rebuliço em volta. pensei que era bom estar de novo contigo. se estás longe sinto a tua falta, quando estás perto o tempo não passa. pára para nós e é cúmplice nas confidências.
gosto que me olhes. deitaste a tua cabeça no meu ombro como sempre fazes e segredaste-me qualquer coisa. pediste um café e um sumo, o habitual. olhaste à volta e tudo parecia dizer-te que aquele momento era nosso.

descemos a rua, o teu braço à volta da minha cintura. cantaste para mim a nossa música. a outra, que te dediquei pelo telefone quando fui ao concerto, foi quase nossa também. mas os amantes são únicos, tal como as músicas que nascem para eles.

quando te falei no filme, sabias que era uma mensagem, gosto de ti. e todos os bilhetes, os postais, os livros e as músicas, tudo isso te dedicava. guardo ainda todos os pedaços do que é nosso. às vezes abro a caixa e perco a horas a olhar. dizem que o que é bonito é para se ver. cada objecto em que estás contido. cada sonho que guardo ainda lá dentro.

deste-me uma flor. acho que querias que o vendedor se fosse embora, sabes que não gosto de rosas. esperas pacientemente por mim cada vez que paro em frente a uma montra. ainda contas histórias de pessoas que conheço. ainda falas com orgulho do que conquistaste. passámos naquele lugar outra vez, a mesma música, o mesmo fado. mas já não me entristece.

[espero-te no sábado à noite, tenho saudades tuas...]